sexta-feira, maio 8

Cineclubes

Uma opção para assistir bons filmes fora de circuito (e geralmente de graça, vale ressaltar) é o cineclube. Não somente, é um espaço de convívio onde os filmes podem ser pensados e discutidos. O Movimento Cineclubista no Brasil foi instituído a mais de 80 anos e foi palco (ou seria tela?) de discussões intelectuais e políticas de grandes cineastas da nossa terrinha. No site do Conselho Nacional de Cineclubes, além de artigos sobre a história do movimento, discussões, encontros, notícias e afins, há uma lista bem organizada dos cineclubes associados que existem no país. Vale conferir.

O que me motivou a escrever sobre esses espaços batutas, foi a boa experiência no Projeto Cinematographo (1). Dois filmes foram apresentados: Fogo que não se apaga (Harun Farocki-1969) e Nossa Música (Jean-Luc Godard- 2004). Ambos são construídos em torno da temática da guerra e, distintos diretores que são, produziram filmes não menos distintos e por vezes tortuosos, no bom sentido do termo.

No primeiro, o diretor alemão inicia o filme com a câmera apontada para si mesmo e informa ao espectador o que ele verá: uma denúncia de guerra, da dimensão corrosiva da bomba napalm imperialista utilizada contra vietnamitas. Contudo, de maneira alguma mostrará imagens das vítimas ou destroços de guerra, diz:

“Se lhe mostrarmos queimaduras de Napalm, você fechará os olhos. Primeiro, fechará os olhos por causa das imagens. Depois, fechará os olhos por causa da recordação das imagens. Depois, fechará os olhos perante os fatos. Depois, fechará os olhos a todo o contexto.”

Cabe acrescentar que a única imagem de queimadura humana mostrada, é um cigarro que ele apaga no próprio braço, para nos dar uma leve impressão dos efeitos da bendita bomba: o cigarro queima a 400 graus Celsius, a Napalm, a 3000. Depois disso, o que temos é a simulação e destrinchamento do processo de construção e aprimoramento da bomba por cientistas de jalecos em uma indústria química e, acredite, isso cutuca mais que a bituca!

Quanto a Nossa Música, confesso não ter entendido quase nada na primeira vez que o vi, assim que estreou. E quase nada mudou quando assisti semana retrasada. A não ser pela discussão posterior com a presença do professor de sociologia Laymert Garcia, que caiu como um lápis ligando os pontos entre o céu, inferno e purgatório.

Por essas e outras, recomendo o cineclubismo e passarei freqüentar mais.

1- Projeto Cinematographo
Quando? Toda segunda-feira
Que horas? A partir das 18:30
Onde? Auditório I do prédio de graduação do IFCH-Unicamp/Barão Geraldo
Como a programação é divulgada por cartazes, sempre que possível reproduzo-a aqui.

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